Itinerários De Aprendizagem das Casas Da Democracia
Ambiente de aprendizagem das Casas da Democracia
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Mas antes veja abaixo o programa
ITINERÁRIO 1 – RECONHECIMENTO DE PADRÕES AUTOCRÁTICOS
O primeiro itinerário será composto pelos romances distópicos clássicos:
- A nova utopia, de Jerome K. Jerome (1891)
- Nós, de Yevgeny Zamyatin (1921)
- Admirável mundo novo, de Aldous Huxley (1932)
- O zero e o infinito, de Arthur Koestler (1941)
- A revolução dos bichos e 1984, de George Orwell (1945, 1949)
- Fahrenheit 451, de Ray Bradbury (1953)
- O senhor das moscas, de William Golding (1954)
- Um dia na vida de Ivan Denisovich, de Alexander Soljenítsin (1962)
- Duna, de Frank Herbert (1965)
- O conto da aia, de Margaret Atwood (1985)
- Star Wars: Manual do Império de Daniel Wallace (2016)
Cada livro é uma estação no percurso de aprendizagem. O objetivo é conhecer padrões autocráticos em “estado puro” nas distopias para reconhecê-los em situações reais da nossa experiência.
ITINERÁRIO 2 – OBJEÇÕES CORRENTES À DEMOCRACIA: COMO RESPONDÊ-LAS
Outro itinerário será composto pelas perguntas usuais que questionam a democracia, do tipo:
- Como pode haver verdadeira liberdade (e democracia) sem um mínimo de igualdade (cidadania plena)?
- De que adianta ter democracia se o povo passa fome (ou como pode haver democracia política enquanto não for reduzida a desigualdade social)?
- Um líder identificado com o povo não pode fazer mais (pelo povo) do que instituições cheias de políticos corruptos controlados e financiados pelas elites?
- Como a democracia pode funcionar direito quando faltam aos cidadãos os conhecimentos necessários para interpretar a realidade social e escolher conscientemente os melhores caminhos?
- Os seres humanos, abandonados à sua própria sorte, sem uma direção política capaz de conduzi-los, não acabarão entrando em luta uns contra os outros, instaurando um verdadeiro caos social?
E muitas outras. O objetivo é responder às objeções comuns à democracia que permanecem sendo repetidas ad nauseam por autocratas e analfabetos democráticos.
ITINERÁRIO 3 – TEXTOS CLÁSSICOS SOBRE A DEMOCRACIA
Um terceiro itinerário será composto por leituras dos textos teóricos fundamentais da “tradição” democrática, escritos por pessoas como:
- Ésquilo (472 AEC)
- Althusius (1603)
- Spinoza (1670 1677)
- Locke (1689 1690)
- Montesquieu (1749)
- Rousseau (1754 1762)
- Jefferson (e o network da Filadélfia: 1776)
- “Públius” (os “Federalistas” Hamilton, Jay e Madison: 1787 a 1788)
- Paine (1791)
- von Humboldt (1792)
- Constant (1815 1819)
- Tocqueville (1835-1840 1856)
- Thoreau (1849)
- Mill (1859 1861)
- Dewey (1927 1937 1939)
- Popper (1945)
- Arendt (1950-9 1958 1963)
- Berlin (1969)
- Havel (1978)
- Lefort (1981)
- Bobbio (1984)
- Castoriadis (1986)
- Maturana (1985 1993)
- Rawls (1993)
- Dahrendorf (1997)
- Sen (1994 1999)
- Dahl (1998)
- Rancière (2005)
Além, é claro, dos textos clássicos, como: A Constituição dos Atenienses do Pseudo-Xenofonte; As Memoráveis e A Apologia de Sócrates de Xenofonte; A República, O Político e As Leis de Platão; A Política de Aristóteles e a Constituição de Atenas atribuída a Aristóteles; A História da Guerra do Peloponeso de Tucídides; a História de Heródoto etc. Novamente, cada escrito é uma estação. O objetivo é captar o genos da democracia.
Ésquilo
Althusius
Spinoza
Locke
Montesquieu
Jean Jacques Rousseau
Thomas Jefferson
Paine
von Humboldt
Constant
Tocqueville
Thoreau
Mill
Dewey
Popper
Arendt
Berlin
Havel
Lefort
Bobbio
Castoriadis
Maturana
Rawls
Dahrendorf
Sen
Dahl
Rancière
ITINERÁRIO 4 – A DEMOCRACIA COMO MODO-DE-VIDA
Um quarto itinerário será composto pela investigação da democracia como modo-de-vida, ou seja, da democracia no sentido forte do conceito: como processo de desconstituição de autocracia, onde quer que ela se manifeste, não apenas no Estado e sim também nas organizações da sociedade (como a família, a escola, a igreja, a corporação – incluindo a universidade -, o quartel, as organizações da sociedade civil e a empresa hierárquica). O objetivo é investigar como se pode experimentar a democracia para desprogramar cinco a seis milênios de cultura autocrática.
ITINERÁRIO 5 – INDICADORES DE DEMOCRACIA
Um quinto itinerário será composto por uma coleção de rankings sobre a democracia no mundo e de rankings (supostamente) correlatos nos últimos dez anos, como, de um lado, o Democracy Index da The Economist Intelligence Unit, o Freedom in the World da Freedom House, o V-Dem da Universidade de Gotemburgo e, por outro lado, o IP per capita, o PIB per capita (do Banco Mundial), o IDH (PNUD), o do WEF Global Competitivenes Index, o Ingelhart-Welzel Cultural Map of the World do WVS – World Values Survey, o do Pew Research Center etc.
Cada estação é composta por uma comparação e por um questionamento das correlações encontradas.
Este é um itinerário investigativo, onde o interagente se associa a um esforço coletivo de encontrar correlações entre indicadores de democracia e outros indicadores que medem competitividade, fragilidade estatal, conflitos e governança e valores culturais, buscando corroborar ou falsificar a hipótese de que países mais democráticos tendem a ser mais socialmente cooperativos e economicamente competitivos, menos frágeis ou instáveis, menos vulneráveis a conflitos ou mais pacíficos, com melhor governança e com predominância de valores racionais sobre valores tradicionais e de valores de auto-expressão sobre valores de sobrevivência.
E, além disso, encontrar classificações mais adequadas para categorizar as unidades de governança do ponto de vista do processo de democratização das suas sociedades.
ITINERÁRIO 6 – TEXTOS RECENTES SOBRE A CRISE DA DEMOCRACIA
Um sexto itinerário terá como objetivo colocar os participantes a par do debate atual sobre democracia, acompanhando a literatura e as controvérsias mais recentes, publicadas nos periódicos especializados como o Journal of Democracy e outras revistas semelhantes.
É preciso também ler os livros sobre a crise e as ameaças à democracia publicados nos últimos três anos, como os de Snyder (2017), Castells (2017), Albright (2018), Runciman (2018), Levitsky e Ziblatt (2018), Mounk (2018), Da Empoli (2019), Diamond (2019), Przeworski (2019).
E saber o que estão pensando – para citar apenas alguns exemplos –Francis Fukuyama, Donald L. Horowitz, Marc F. Plattner, Ronald F. Inglehart, Christian Welzel, Roberto Stefan Foa, Takis S. Pappas, Paul Howe, William A. Galston, Mark Lilla e também articulistas importantes como Michael Reid, Moisés Naím, Enrique Krauze e Mario Vargas Llosa, entre tantos e tantos outros.
Snyder
Castells
Albright
Runciman
Levitsky
Ziblatt
Mounk
Da Empoli
Diamond
Przeworski
ITINERÁRIO 7 – DEMOCRACIA NA EMERGENTE SOCIEDADE-EM-REDE
Um sétimo itinerário será composto por uma visão social da democracia e é dedicado à investigação das relações entre democracia e redes sociais.
O objetivo é pensar em novas formas de democracia mais adequadas a uma emergente sociedade-em-rede.
As estações são compostas por uma releitura dos grandes temas do estudo da democracia, como: as invenções da democracia; a fenomenologia da interação em mundos altamente conectados; política, verdade, ciência e opinião; política, guerra e paz; liberdade e igualdade; democracia como regime da maioria ou das múltiplas minorias; falhas genéticas da democracia; princípios democráticos; política como utopia da democracia; a democratização ou radicalização da democracia; novas características da democracia na sociedade-em-rede etc.
ITINERÁRIO 8 – DEMOCRACIA E INOVAÇÃO POLÍTICA E SOCIAL
Finalmente, um oitavo itinerário enfrentará o problema da inovação política e social. Além de reinterpretar os temas óbvios: livre mercado, redução da participação do Estado na economia, reformas, responsabilidade fiscal, corte de impostos e privatização – que deveriam constar da pauta obrigatória de qualquer liberal (não exclusivamente dos liberais-políticos), serão abordados temas relacionados à defesa da democracia e à continuidade do processo de democratização (da sociedade, do Estado e do padrão de relação Estado-sociedade).
Farão parte desse itinerário alguns temas inovadores que ainda não entraram na pauta de grande parte dos liberais como, por exemplo: a crise e os limites da democracia representativa e a experimentação de novas formas mais interativas de democracia numa emergente sociedade-em-rede; o federalismo e a crise do Estado-nação; a superação da contraposição localismo não-cosmopolita (tipo America First) x globalismo e a realidade emergente da glocalização; a superação da contraposição estiolante monoculturalismo x multiculturalismo: rumo à inevitável (e desejável) miscigenação cultural; a inadequação da classificação e da divisão das forças políticas em esquerda x direita; e o envelhecimento da divisão entre visões mercadocêntricas e estadocêntricas do mundo: a sociedade como forma autônoma (subsistente por si mesma) de agenciamento, além (ou ao lado) do mercado e do Estado.
Também serão discutidas novas experiências de democracia que sejam: mais distribuídas, mais interativas, mais diretas, com mandatos revogáveis, regidas mais pela lógica da abundância do que da escassez, mais vulneráveis ao metabolismo das multidões e mais responsivas aos projetos comunitários, mais cooperativas, mais diversas e plurais (não admitindo apenas uma única fórmula internacional mas múltiplas experimentações glocais).